23/06/23
Voos mais verdes
Indústria da aviação mundial busca descarbonizar o setor com o desenvolvimento de combustíveis mais sustentáveis e motores menos poluentes.
Tempo de leitura: 4 minutos
Por Avantto
A indústria da aviação global tem investido fortemente para reduzir as suas emissões de carbono. Neste sentido, novos combustíveis e motores estão em desenvolvimento para diminuir o impacto do setor no meio ambiente.
O tipo de combustível mais usado em aviões e helicópteros é o querosene de aviação (QAV) – um derivado do petróleo obtido por destilação direta, de alta combustão. O combustível de aviação mais sustentável, mas que ainda não é produzido comercialmente, é o SAF (Sustainable Aviation Fuel), feito a base de matérias-primas renováveis, como o óleo de cozinha.
O SAF é cerca de 80% menos poluente do que o QAV. Na última edição da EBACE, a feira de aviação executiva realizada no fim de maio, em Genebra, diversas empresas utilizaram este combustível para deslocar as suas aeronaves dos países de origem até a Suíça.
“Vimos no evento como o setor está reinventando a própria tecnologia de voo para assumir novas missões, atender novos clientes e conectar o mundo de forma sustentável”, disse o presidente da European Business Aviation Association (EBAA), Juergen Wiese.
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E avião elétrico existe? Sim, alguns projetos estão em fase avançada de desenvolvimento, mas o desafio maior está na fabricação de baterias de maior autonomia de voo.
Há várias fabricantes aeronáuticas testando os seus protótipos de avião movidos a baterias elétricas ao redor do mundo. A companhia brasileira Embraer é uma delas.
Em agosto de 2021, a empresa decolou de sua pista em Gavião Peixoto (SP) um modelo EMB Ipanema adaptado com grandes baterias elétricas e fez um voo teste sem consumir uma gota de combustível fóssil sequer.
Em novembro daquele mesmo ano, a Rolls-Royce realizou testes com o Spirit of Inovation, o avião 100% elétrico da companhia. Na ocasião, a aeronave bateu o recorde de velocidade para este tipo de propulsão: 623 km/h.
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Dentre os modelos executivos, o Alice, da Eviation é um dos projetos mais adiantados. Destinado a viagens curtas, de até 800 km de distância, ele pode voar a 9 mil metros de altura e tem capacidade para até 11 passageiros. A velocidade de cruzeiro é de 400 km/h.
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Enquanto isso, motores híbridos tem sido uma solução mais viável. Eles se alternam conforme a etapa da viagem: no taxiamento de pista e voo cruzeiro, os propulsores elétricos entram em ação; na decolagem, o motor à querosene é ativado.
Combustão de hidrogênio
Outra tecnologia em desenvolvimento é a propulsão por hidrogênio líquido. O gás liquefeito é injetado nas câmaras de combustão e, em contato com o ar atmosférico, queima e gera calor – superior até à querosene de aviação tradicional. O processo é similar ao já utilizado em foguetes espaciais. A vantagem para o meio ambiente é que este tipo de motor emite vapor de água na fase final, não carbono.
Fabricantes como a Airbus têm projetos avançados neste sentido. A empresa inaugurou dois centros técnicos, na Alemanha e na França, para desenvolver os protótipos do projeto Zero E. A expectativa é de que os primeiros aviões movidos a hidrogênio sejam produzidos comercialmente a partir de 2035.
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Mas os desafios ainda são muitos: a produção em larga escala de hidrogênio; o desenvolvimento de tanques capazes de suportar variações de pressão com o gás; infraestrutura em terra para o abastecimento das aeronaves; e o próprio desenvolvimento de aviões adaptados a este novo tipo de combustível.
Isso porque o hidrogênio deverá ser comprimido em cilindros. Assim, os novos tanques ficariam melhor abrigados na fuselagem, não nas asas, tomando o espaço de carga e passageiros. A questão abre um novo campo de trabalho para os designers aeronáuticos e, no futuro, quem sabe, poderemos ver aeronaves com formatos bastante diferentes dos atuais voando pelos céus.